segunda-feira, 19 de julho de 2010

O gosto vermelho

Mas aqui estou eu de volta. Desde a minha primeira carta venho pensando muito em como farei para aceitar o que sou.
Sim, voltei a escrever depois de alguns meses porque não entedia o que se passava em minha vida, comecei a compreender a pouco tempo. Não pedi a imortalidade que tantos desejam e sim, pedi para superar a dor que consumia o meu peito, mas os deuses não me ouviram, e sim o Lorde, que entendeu o meu suplico de forma estranha e assustadora. Não desejo essa vida nem as piores almas. Mesmo por que isto não é vida, a muito que a vida não existe neste corpo que levanta esta pena para escrever mais uma carta desprovida de sentimentos.
Não sei ao certo quanto tempo se passou desde a minha transformação, mas é como se tivesse passado todo uma vida, desde a infância até a velhice, e depois retornando a ser criança para então envelhecer novamente. Os dias passam e a eternidade me parece algo insuportável.
Passei muito tempo deitada, aceitando o que me era dado para saciar a fome, uma fome sem fim. Me lembro da primeira noite em que puder sentir no que se baseava a minha fome. Ou seria sede?
Estava em minha cama, a mesma cama que dormia quando ainda era viva, e o lorde veio me visitar, não poderia deixar de mencionar o quão belo era aquele ser apesar de todo o medo que nutria em meio peito por aquela criatura, que até aquela noite ainda era bastante desconhecida para mim.
Ele veio andando lentamente, como quem valsa se aproximou de mim e me perguntou
- A criança tem fome, sente vontade de beber algo. Sua voz parecia uma melodia da qual eu poderia passar a noite ouvindo e ainda assim não me cansaria de me inundar com aquele som maravilhoso. Mas havia algo na pergunta dele que realmente chamou minha atenção, eu estava com fome, muita muita fome, mas não tinha vontade de comer nada. Mas ele parecia ouvir tudo o que eu estava pensando e se aproximou de mim, se ajoelhou no chão ao meu lado na cama e trazia em uma de suas mãos uma taça de cristal, que brilhava e cintilava contrastando com o líquido escuro que jazia dentro dela. Eu senti o cheiro e quase por impulso senti meu corpo se erguer e mais rápido do que a minha mente pode acompanhar eu já estava aos pés de Lúcios, olhando paralisada a taça e desejando sentir o gosto daquele líquido que me parecia muito com vinho mas eu sabia desde o momento que coloquei meus olhos nela que o cheiro era muito melhor que vinho, era uma aroma diferente de tudo que já havia sentido em minha vida. Segurei a taça e Lúcios não fez objeção aos meus movimentos, apenas sorriu e fez um sinal com a cabeça como quem indica para continuar a fazer o que já havia começado, a esta altura minhas mãos já envolviam aquela taça e minha boca sentia pela primeira vez o gosto do sangue humano. Não fazia idéia de como era maravilhoso e saboroso aquele líquido.

domingo, 18 de julho de 2010

Foi então que ele me encontrou

Ontem, acordei com um pouco de dor de cabeça sem saber o que estava acontecendo. Ao meu lado sentado no chão, estava ele, de olhar sombrio e um sorriso diferente de todos que já havia visto em minha vida. Parecia um lobo faminto com as presas sujas de sangue.
- Você recebeu a graça do senhor da escuridão – dizia ele com uma voz desanimada e um sorriso perverso. – Senhor esse que irá te ajudar nesta tua vida sofrida, todas as dores da tua alma ele irá cicatrizar, e nada mais terá importância, por que neste corpo teu não habita mais alma alguma.
Fiquei confusa, e sentia dores por todo o corpo, mas havia um local que a dor parecia interminável, era o meu pescoço, estava ardendo e queimava como brasa. Passei a mão e percebi que a dor não era em vão, estava sangrando e senti que havia furos naquela região.
– Isso não é nada. – disse ele ao se levantar – Deverá sarar antes que digas teu próprio nome.
E foi o que aconteceu. Ele se levantou e com tamanha rapidez já estava com o rosto encostado a minha pele, senti quando ele passou a língua em meu pescoço, bem na ferida e em um segundo depois nada mais havia ali, nem feridas, nem sangue. E com a mesma rapidez que se levantou ele se afastou e ficou parado olhando para mim.
Ele começou a falar e suas palavras ecoavam em minha cabeça. Explicou-me no que eu havia me transformado. Um ser da noite, um vigilante do mal, uma criatura possuidora dos dotes maléficos.
O dia havia acabado para mim, não poderei mas ver o brilho das manhãs, só a noite poderia despertar para os meus olhos.
Quando escureceu despertei do meu sono, um pouco cansada admito, e faminta. Estou escrevendo essa carta para tentar desviar meus pensamentos, ainda estou tentando acreditar no que sou, no que me transformei, mas não estou aceitando.
Eu soube naquele momento que nada mas seria comum novamente.